quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Um Conto


                                 Um  Conto

    Não é fácil escrever um conto, além do imaginário, precisa-se de uma memória ficcional presente, de onde vertem as idéias. Às vezes é um saco, para o autor, que bulira e aperfeiçoa o texto e ninguém gosta. Então, a gente deve procurar escrever para si próprio, ai não tem erro, ficando sem responsabilidade de agradar.
    O seu Pota, um sábio morador em Cacimbinhas, tinha razão em acreditar só em suas verdades. Quando chegava com uma novidade ele lascava de pronto, já sábia, conheci lá em Cachoeira, nem levava o assunto adiante. Certa vez chegou um mascate na sua fazenda, contando que estavam criando um tal de “Cérebro Eletrônico”. Ele, respondeu logo: “depois que conheci a máquina de costura, na casa da minha bisavó, não duvido de mais nada.”..
    Sendo um homem bem informado, para época, pois mensalmente seu amigo Coronel Fagundes, presenteava-lhe com uma pilha de exemplares do Correio do Povo, que eram lidos e relidos, para poder passar as noticias aos seus visinhos e clientes, estes, em bom número. Seu Pita era um homem do campo, que guardava e aplicava muito bem suas economias na agiotagem. Dizem que nunca perdeu um vintém. As taxas dependiam do grau de necessidade e ao que se destinava. As maiores eram para quem apostava em carreiras de cancha reta. Garantias, como no tempo dos “velhos papagaios bancários”, vinham em primeiro lugar. Portanto, o negócio tinha que ser bom para todos, isto é, para ele e para sua família. Deixa umas novilhas e terneiros de sobre ano comigo, para numa eventualidade. Que visão econômica financeira, já tinha o seu Pota, nunca perdia.
    Os filhos saíram cedo de casa, uns casaram outros foram servir a Pátria e se tornaram independentes. Ai os negócios prosperaram mais. Resolveu depositar as economias no banco, pois os assaltos começaram na região. A princípio resistiu, mas com a notícia de que tinham roubado ovelhas do campo do Coronel, não encontrou outra saída. Além disso, os juros aumentaram, e, cada vez que fazia uma operação, precisava fazer uma viagem a Cacimbinhas, no ônibus do Pinheiro ou Campinas. Conhecido por sovina e pão duro, daqueles que não comia um ovo, para não colocar a casca fora. Tinha suas manias. Quando ia para o povo, colocava só um pé de bota, às vezes o esquerdo, outras o direito e lógico, sempre com um chinelo no outro pé. Isto para economizar as botas. Dizia: - “Imagina, andando com os dois pés, quanto vou gastar”. Sua guaiaca (cinto) tinha vários esconderijos onde colocava as pelegas, retiradas do banco. E, numa mala de garupa levava um fiambre. Retornava, sempre com algum mantimento comprado, no armazém dos Meireles, pois, os preços do bolicho do Almery, seu visinho, estavam caros demais. Que homem de visão!
    Criava gado de todos os pelos e um rebanho de ovelhas de raça indefinida. Um dia chegou um gaudério dizendo ser o fiscal da sarna ovina.   A lei mandava, combater a sarna e todo criador deveria fechar suas propriedades, com sete fios de arame e construir banheiros especiais, só para as ovelhas. Deu uma mateada, fechou um palheiro, puxou um pigarro e disse: - “Dura Lex Sed Lex. Avisa teu chefe que aqui não tem mais ovelha e que meu campo vai continuar com três fios de arame”.  Resolveu a situação. No outro dia chamou os filhos e, entregou-lhes todo o rebanho. Mudou-se para a cidade e nunca mais voltou à fazenda. Passou a viver como peixe fora d’água. Reclamava que as leis são cruéis e matam os viventes à míngua e ainda tendo que morar neste muquiço de pensão, sustentado pela mulher, que ganha uns trocados na moderna máquina de costura.

   

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