As noticias chegavam através da Tupi e Nacional. Brasília sendo a capital era uma ilha deserta e quase isolada, a vida política fervia no Rio.
Versão de bombardeio aéreo, invasão naval, levou o Governador pensar em afundar barcos na barra. O ato inviabilizaria a entrada trigo argentino, precisava saber o estoque no Estado. Os Silos e Armazéns teriam a informação.
Estagiários estavam assumindo aquele serviço, conferiram às planilhas, todas erradas. Acertar por telefone, com o interior, nem se pensava naquela época. Comunicado o Diretor Geral, ficou indignado com a situação. À noite a noticia foi que o estoque de trigo era suficiente, para abastecer o Estado por 20 dias. Perguntávamo-nos de onde tiraram aqueles números...
Todos os dias, às 15 horas os funcionários eram “convidados” para frente do Palácio Piratini. Depois do cafezinho no Rian, bordejo pela Rua da Praia, comprava a “Folha da Tarde” e passava rapidamente por lá. Os mais partidários ensaiavam gritos de guerra, até surgir o Hino da Legalidade que a multidão entoava com fervor.
Saiu à convocação de um plantão de 24 horas. Temia-se alguma coisa pior. Quem desejasse, fosse ao Palácio pedir revolver. Não fui não saberia usá-lo. Os que foram voltaram armados. Sem dormir escutando rádio tomando café, foi aquela jornada da “Resistência Democrática”.
O Dia amanheceu calmo e sereno e o único silvo que se ouviu na madrugada foi dos sabiás, às 4 horas, que cantavam e encantavam a madrugada porto alegrense.
Encerrada a Legalidade, sem mortes ou feridos, demiti-me do serviço.
Voltei em janeiro para visitar ex-colegas, no Setor de Pessoal uma gratificação me esperando “pela heróica participação na Legalidade”. Conferiu a devolução da arma, nada constava na lista, recebi o cheque.
Senti-me o próprio “herói mercenário”.