segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Diálogo de Maestros
Caminhava na Redenção, admirava a exuberância colorida da primavera, e me chocava com os estragos em cada recanto, naquele aprazível local. Há quantos anos percorro seus caminhos, e, só vejo destruição e detritos. Pas-sando pelos monumentos, a constatação é a mesma, desaparecem um a um. Algumas cabeças sobraram, mas já sem identidade. Quem fez isto, quando foi? “Ninguém sabe, ninguém viu”.
Acabava de admirar a modernidade do Auditório Araújo Viana (Maestro gaú-cho falecido em 1914 e ancestral do meu amigo Roque Araujo Viana) limpo, ajardinado e com faxineiros e zeladores. Sem os colchões dos sem tetos, re-cantos de prostituição e de consumo drogas, tudo, isto porque foi cercado. Esperamos agora que seja respeitado.
Junto aos espelhos d’água, estão ali, depredados os monumentos de Carlos Gomes, Chopin e Beethoven, que, num diálogo pouco auditivo, falavam de sua sorte, abandonados naquele local, e entregues as de hordas de vânda-los, que levaram as suas referências. Carlos Gomes, pergunta a Chopin: - On-de está a estampa do Beethoven, que estava ao teu lado? Maestro pela mi-nha imobilidade não posso olhar para os lados, mas deve ter seguido o cami-nho da placa do teu pedestal. - Não acredito que já levaram. - Sim jovem ta-lento, nem com teu Guarany, contentaste teu povo. E eu, com Noturnos e Ludwig, com sua Sinfonia número 9, o que poderíamos esperar? - Chopin não se pode esperar mais nada, certa vez levaram o chapéu do Santo Du-mont. Vamos nos dar por satisfeitos, pelo que sobrou de bronze. Mas olha Gomes, vejo nas tuas costas, que o Auditório foi reformado e cercado. Agora os destruidores, não terão mais o soturno da noite, para cometerem suas fa-çanhas assassinas, contra o patrimônio público. - Que boa noticia, Chopin, que a cerca chega até aqui, arrematou dizendo: - Quem sabe pedimos nossas transferências para o Parque Ibirapuera em São Paulo. Lá é tudo cercado, e não tem invasores noturnos. - Sou companheiro, velho Maestro, pois aqui es-tamos no corredor da morte.
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