“Experimentem treinar vossas paciências, dando baixa em uma emergência
hospitalar, fora dos sábados e domingos. Minha esposa amiga, de 56 anos de
conjugação amorosa, foi surpreendida com uma infecção intestinal, quando fomos
à emergência de um hospital de primeiro mundo em Porto Alegre. Tudo repleto,
naquela agitação calma, se assim posso me expressar. Todos, se não medrosos,
ali ficam assustados, e se fecham dentro de si. O pior é a maioria não saber
ofertar seus sofrimentos, buscando reclamar de alguém, ou de alguma coisa. Mais
difícil ainda é compreenderem que somos apenas uma vil matéria, abrigando
"Tudo". Doze horas depois conseguimos nossa baixa, que foi uma
baixaria, pois estávamos sem "lenço e sem documento". Minha paciência
continuou testada, assessorando minha querida perfeccionista, num ambiente
imperfeito, por mais que o bom hospital tentasse contentar seus
"impacientes". Os profissionais são impessoais, o que julgo
necessário, não se envolvendo emocionalmente com seus pacientes. Numa das salas
enfatizou a enfermeira: "Aqui o senhor não pode entrar", ouvindo: “Quem
pensas que és para separar um casal de 56 anos de união”?". Antes de
terminar seu susto, concluí: "Mesmo assim eu vou permitir". Passei a
matutar sobre o ocorrido, em uma cadeira fria -
Quando se ultrapassa a paixão, e até mesmo o próprio amor, para se
chegar à verdadeira amizade, completamos o ciclo da vida - Então, nem mesmo a
morte nos separa”.
O fato
Num shopping do Rio, conheci uma figura formidável. Pediu-me licença sentou-se, fechei o jornal que lia e começamos papear. Contou-me do que viveu como correspondente internacional da TV Tupi Canal 6, (repórter cinematográfico). Cobriu conflitos internacionais, foi preso na Índia, por fotografar lavadeiras sem lenço na cabeça, no Rio Gandhi. Depois de longas temporadas voltou ao Brasil. Passou a fazer cobertura no Palácio Monroe (demolido em 1974 e instalada a Praça Mahatma Gandhi, no Rio de Janeiro).Certo dia, o Senador Assis Châteaubriand (Proprietários dos Diários Associados) faria importante pronunciamento como repórter mandou iluminar a acena e iniciou a filmagem. O Senador calou, interrompendo a sessão e ordenou que desligasse aquela máquina, ele não precisava daquilo. Recolheu tudo e foi para o reservado da imprensa, quando chega aos seus ouvidos o secretário do Senador e diz, vai lá e filma o velho, caso não faças quando chegares à TV estará demitido. Levantou calmamente, tirou iluminador de cena, abriu o máximo à lente e conseguiu colocar o Velho Capitão, no noticiário da noite. Seu nome Orlando Abreu.
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